Daniel,
Fiquei feliz com a tua lembrança.
Eu? Eu ando assim meio tudo, meio nada. Sim, sei a causa de. Mas também sei os efeitos que provoca. Raios! Tenho medo!
Uma pessoa habitua-se a determinadas coisas. O estar quieta e sossegada até é confortável. Habituamo-nos a tudo acredita. Há dias em que estamos mais desassossegados, mas até com isso aprendemos a lidar. Habituamo-nos é o que é. E depois um dia quando já não contamos com nada (a vida é mesmo assim. Traiçoeira. É sempre quando menos esperamos.), aparece algo que abala as nossas certezas. As certezas que fomos semeando, que regamos e fizemos crescer para nos protegermos do mundo. Dos outros. A vulnerabilidade sempre me deu cabo dos nervos. O não ter o controlo de. De mim por exemplo. É. Tenho medo!
Acredito que saibas do que falo, neste meu tudo-nada. Sabes sempre. Mesmo quando eu te falo nesta minha maneira estranha. Em que as palavras parecem todas suspensas em árvores, à espera que venha a chuva para que possam cair como gotas de orvalho. São os olhos. Sim, a falta de olhar nos olhos que me põe este medo aqui dentro.
A Ana, chamava-me muitas vezes de "bruxa". Ria-me com ela. Dizia-lhe que não e ela respondia-me que não conhecia mais ninguém que lê-se a alma toda que vem escrita nos olhos como eu. Disse-lhe muitas vezes que há pessoas que não consigo ler. Simplesmente porque são ilegíveis, indecifráveis. A Ana partiu. Soube-o hoje. E sabes, não consegui ler-lhe um adeus nos olhos da última vez que estivemos juntas. Sei que estava lá escrito algures. A alma sabe sempre essas coisas. A hora da partida. A hora em que o comboio chega. Quando soube olhei para o céu e alegrou-me acreditar que a Ana está lá em cima a pentear os caracóis dos anjos e a arranjar-lhes as asinhas para que andem equilibradas. Equilíbrio interior era o que ela dizia que me faltava. E eu sorria.
Não Daniel, não é só a partida da Ana que me causa frio. Ela está lá a cuidar dos anjos. É este medo. Arriscar é sempre um jogo de roleta. E para te falar a verdade não sei se aguento andar a jogar outra vez.
8 comments:
Esta È a Lyra! :)
Bjinho
Sandra G.
lindo... é linda a forma como escreves...claro que ela está a pentear anjinhos, lá onde ela estiver, vais estar bem...espero que também fiques ...jinhuz
... lá onde está, tem um sorriso de ternura no olhar, porque nos meus, solta-se um lágrima, que não consigo evitar...
Recordações de outra "Ana"...
Um abraço
A vida é sempre um jogo, Lyra. E ganhamos muitas vezes...
Como eu te entendo...até parece que me lês - te a alma :)Melhor era impossível.
Um beijo em ti
a tua carta tocou-me, não vou dizer porquê. ou talvez sim, um pouco: esse medo é-me familiar.
mas tenta vencê-lo, eu não consigo...
beijos.
Tinha saudades tuas!
S.G.
Afinal há tantos lugares melhores que aqui e agora... :)
E acho que ultimamente os anjos que me tenho encontrado estão efectivamente mais penteados :)
Ah, e os nossos hábitos só nos parecem bons enquanto não nos livramos deles... ;)
Abraço-azul
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